O que é Medicina Veterinária Paliativa?
A prática dos Cuidados Paliativos é original da atenção à saúde humana, integrando profissões como Medicina, Psicologia, Nutrição, Fisioterapia e Enfermagem. No entanto, o paliativismo tem ganhado cada vez mais espaço e relevância na Medicina Veterinária. Com a proposta de acrescentar a escuta ativa e a atenção a múltiplos aspectos para o bem-estar de pacientes e responsáveis, o paliativismo veterinário concentra sua atenção em animais – principalmente os de estimação – diagnosticados com doenças e condições que ameacem a continuidade da vida, sendo elas agudas ou crônicas.
Considerada uma modalidade clínica privativa a médicos-veterinários (Resolução CFMV Nº 1573/2023), a medicina veterinária paliativa se atenta para a importância de um tratamento holístico e preocupado com diferentes frentes para o bem-estar dos pacientes, indo além dos procedimentos clínicos convencionais. “Ela surge para ajudar a cuidar de uma forma mais abrangente, mais integral, se atentando para esse paciente no sentido do sofrimento que o acomete por ele estar passando por aquela doença”, explica a médica-veterinária Bárbara Hess.
É importante que as equipes paliativas levem em consideração a história e o contexto social no qual seus pacientes estão inseridos. Para isso, a atenção também se volta às famílias responsáveis pelos animais, bem como para a forma como elas vivenciam o diagnóstico e o enfrentamento da doença com seus pets.
Dentre os aspectos comumente associados ao bem-estar humano e animal, ao pensar nos cuidados paliativos veterinários, é possível destacar aqueles considerados pelo questionário WHOQOL-100, da OMS. Sendo eles:
- Físico: Considera fatores como dor, desconforto, sono e energia de pacientes;
- Psicológico: Capacidade de aprendizado, apatia e estresse dos animais, além dos sentimentos positivos e negativos de seus responsáveis;
- Social: Disposição e oportunidade para interações com humanos e outros animais;
- Ambiental: Segurança física, ambiente no lar, transporte e oportunidades de recreação/lazer;
- Espiritual: Religiosidade, espiritualidade e crenças pessoais da família responsável pelo animal;
- Independência: Mobilidade, atividades cotidianas e dependência de medicações por parte dos pacientes veterinários.
Bárbara Hess destaca que, para que a atuação paliativista seja possível, é preciso que profissionais atuantes em diferentes modalidades clínicas veterinárias sejam articulados em uma equipe, compartilhando e colaborando no tratamento dos pacientes. “Então, eu sendo paliativista, preciso de outros profissionais para encaminhar, para acompanhar junto. É impossível a gente fazer tudo sozinha”, comenta a médica-veterinária. “A gente até brinca que dentro dos cuidados paliativos não existe ‘euquipe’. Tem que ser uma equipe mesmo”.
A comunicação eficaz também se mostra essencial na abordagem paliativa, considerando que todo o processo de integração paciente-equipe-família deve ser transparente e empático. Esse processo tem início na escuta ativa, quando os profissionais tomam um momento do acompanhamento veterinário para acolher dúvidas e angústias dos responsáveis, bem como observar a recepção do paciente diante dos procedimentos adotados.
Todos esses pilares são alinhados à aplicação dos tratamentos modificadores das doenças, que buscam desacelerar o avanço das condições ameaçadoras da vida. “Não precisamos excluir uma coisa para fazer outra. Por exemplo, nós podemos fazer cirurgia, podemos fazer quimioterapia. Mas, ainda assim, o sofrimento que a família tem, que o paciente tem, de uma forma emocional, social, ele pode ser abordado. Isso já é uma ação paliativa” acrescenta Bárbara Hess.