Por que a febre amarela é uma questão de saúde pública?
25 de março de 2021 – Atualizado em 23/10/2024 – 11:40am
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Apesar da devastação causada pela pandemia da covid-19 em todo o mundo, como zoonoses e arboviroses continuam sendo um tema relevante para a Vigilância Epidemiológica, os serviços de saúde e a população.
Prova disso foi uma notícia divulgada, na semana passada, sobre um morador da zona rural de Plácido de Castro (AC), que encontrou macacos guaribas caídos na mata aparentando estar agonizando por falta de ar.
Apesar de ser um endêmico local para a ocorrência de febre amarela, os vídeos feitos pelo morador publicado em redes sociais logo geraram especulações de que os primatas foram ter sido acometidos pela covid-19.
Requerido à repercussão, a Sociedade Brasileira de Primatologia divulgou uma nota – subscrita também pela Sociedade Brasileira de Mastozoologia, pela Universidade Federal do Acre (Ufac), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto de Zoológico – ressaltando “que a febre amarela é endêmica da região e o vírus está em período de maior circulação, portanto essa é a suspeita inicial ”.
Médicos-veterinários atuaram no caso
Um episódio como esse ocorrido no Acre traz à tona, mais uma vez, a importância do papel do médico-veterinário no controle e prevenção de zoonoses.
Os médicos-veterinários Seleucia Nobrega, do Núcleo de Zoonoses da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), e Everton Arruda, do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), esteveam nenhum local onde os guaribas foram encontrados.
Os dois profissionais foram responsáveis pela necropsia de dois animais e pelo envio de material para análise no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), para encaminhamento ao Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA).
Ainda não há previsão de retorno das análises, mas a hipótese mais provável, segundo os profissionais, é de que se trate de febre amarela.
“No Idaf, seguimos os preceitos da saúde única.
No caso da febre amarela, macacos são sentinelas, ou seja, eles ‘avisam’ sobre a presença do vírus.
É importante saber que ao andar na mata e encontrar um primata não humano caído, a suspeita é de epizootia e é preciso notificar.
Sem controle, uma zoonose, como a febre amarela, pode causar não só mortes de animais e prejuízos à saúde humana, mas também desequilíbrio ambiental.
Os animais têm papel importante como espalhadores de sementes, por exemplo ”, explica Arruda.
Febre Amarela em Goiás
O estado de Goiás também é considerado como endêmica para Febre Amarela, sendo frequente a ocorrência de epizootias positivas em primatas não humanos.
Em 2020 e 2021 foram identificados macacos em vários municípios goianos, dentre eles: Goiânia, Aparecida de Goiânia, Abadia de Goiás, Luziânia, Aragoiânia, Jussara e Santa Cruz de Goiás.
Os casos positivos são identificados por meio de necropsias realizadas por médicos veterinários que atuam nas Secretarias Municipais de Saúde (SMS).
A Diretoria de Vigilância em Zoonoses da SMS Goiânia é considerada referência na vigilância de epizootias em primatas não humanos em Goiás.
A unidade conta com médicos veterinários, biólogos e agentes de endemias que realizam o recolhimento dos macacos mortos;
a identificação da espécie;
uma notificação;
a necropsia e coleta de material (realizada apenas por médicos veterinários) e o envio das ao laboratório de referência do SUS.
Além disso, é realizada uma investigação entomológica nos locais das epizootias, seguido da identificação dos vetores e posterior envio para isolamento viral em laboratório.
A DVZ de Goiânia também realiza necropsias e coletas de macacos oriundos de cidades do interior que não possuem médicos veterinários atuando no SUS.
Prevenção: proteger os macacos e vacina
Quando, da mesma forma que ocorreu no Acre, primatas não humanos são encontrados agonizando na mata, é preciso alertar os serviços de vigilância do município.
“É muito importante reforçar a informação de que apenas mosquitos, e não os macacos, transmitem a febre amarela.
Eles são importantes indicadores da presença do vírus em determinada região, servindo como guias para a criação de ações de prevenção ”, assinala Nélio Morais, Presidente da Comissão Nacional de Saúde Pública do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNSPV / CFMV).
O médico-veterinário apresentou as informações sobre a doença, em material disponível ao final deste texto.
A principal forma de prevenção contra febre amarela e vacinação, disponível nos postos de saúde de todo o país.
Desde 2017, o esquema vacinal do Brasil contempla uma dose única da vacina contra a febre amarela durante a vida, a partir dos 9 meses de idade, alinhado ao que recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Além disso, outras medidas de proteção individuais são recomendadas, como o uso de repelentes de insetos, usar roupas compridas e largas ao ingressar na mata e usar mosquiteiros nas áreas onde um incidência do vírus é endêmica.
Fonte: Assessoria de Comunicação do CFMV